quinta-feira, 24 de maio de 2012

Livro investiga a morte de Pablo Neruda



Há 39 anos, o poeta e diplomata Pablo Neruda morria em um quarto de um hospital em Santiago. O laudo médico indicava como motivo do falecimento um câncer na próstata. No entanto, para o jornalista espanhol Mario Amorós, ainda existem muitos questionamentos a serem feitos sobre a morte de um dos maiores nomes da literatura mundial. 

No livro "Sombra sobre Isla Negra", em nove capítulos, o jornalista retorna no tempo fatídico da ditadura Chilena. A partir de testemunhos e fatos históricos, Amóros retrata um Chile de sangue e de silêncio nascido da derrocada do presidente Salvador Allende e da ascensão de uma junta militar encabeçada pelo general Augusto Pinochet.

Dentro do contexto da ditadura, o jornalista recria as circunstâncias que teriam culminado no fatídico dia 23 de setembro de 1973. Para Amáron, a morte de Neruda se assemelha a de outros militantes políticos assassinados pelo regime. No livro, o autor ressalta que o poeta faleceu na Clínica de Santa Maria, a mesma que o ex-presidente chileno Eduardo Frei Montalva seria assassinado dez anos depois.

Como político, Neruda acreditava no sonho de uma América Latina mais igualitária. Nas eleições presidenciais do início de 70, o vencedor do Nobel de Literatura abriu mão de sua candidatura à presidência para que Salvador Allende pudesse vencer e implementar o socialismo no Chile.

Para o jornalista Mario Amorós, mesmo que a ditadura de Pinochet não possa ser incriminada pelo assassinato direto do escritor, ela ainda assim pode ser condenada pela morte de Neruda por meio do desgosto infligido ao poeta ao ver o massacre do regime sob o povo chileno.

Abaixo, coloco uma das poesias de Neruda que me encanta desde a minha juventude.



Morre lentamente,

quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente,

quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente ,
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente,

quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente,

quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e
os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente,

quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente,

quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente,

quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece,
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.


Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.

Pablo Neruda 

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